021.OPERACIONAIS INVISÍVEIS


Os invisíveis

A C.Caç.2418, como qualquer outra de cariz operacional em missão de quadricula (*), era composta por cerca de 130 militares. Pelo Comandante, 4 Grupos de Combate (88 militares) e um conjunto de Sectores e Serviços de apoio tais como: Alimentação (6), Transmissões (9), Saúde (5), Transportes (16), Material (1), Administração (2).
Os operacionais são sempre os mais visíveis, quer quando vencedores, quer quando vencidos (mortos e feridos). Porém, o seu perfeito funcionamento, depende de muitos outros militares especialistas que, quase invisíveis, são fundamentais para o trabalho específico daqueles operacionais. Desde o Comando ao mais básico dos soldados tudo e todos se envolvem no trabalho esperado e exigido a cada companhia. Então, fará sentido nomear esses especialistas, as suas tarefas e seus envolvimentos nos actos operacionais. 
(*) Quadrícula- A companhia de caçadores era a unidade básica do sistema de quadrícula sendo responsável por uma zona de acção específica



Transportes
Um grupo de especialistas, dirigidos pelo Furriel Filipe, garante todas as deslocações nas diversas operações assim como todas as necessidades de transporte, tais como os abastecimentos e outros.
Os CONDUTORES (Almerindo, Armindo, Barbosa, Eduardo, Fafe, Leite, Lino Ribeiro, Manuel Rodrigues, Mesquita, Moura, Ribeiro e Sousa) também eles são operacionais sempre que se deslocam nas picadas assumindo, como todos, os riscos das emboscadas, minas e outros.
Os MECÂNICOS, também conhecida pela Secção da Ferrugem, (Alexandre, Costa Pereira, Couraceiro) são colocados permanentemente à prova tendo que utilizar, com frequência, muita imaginação e competência para ultrapassar as avarias e/ou as faltas de material, comuns nas zonas de guerra, normalmente longe dos locais competentes de abastecimento. Este grupo, que recebeu em Massangulo algumas viaturas em péssimo estado, conseguiu criar um parque auto considerado o mais operacional de todas as companhias naquela zona. E ainda mais! Das viaturas abatidas (recebidas como sucata) reconstruíram uma e, desta forma, aumentaram o parque operacional.
Não fiquemos por aqui!
O empenho nas actividades operacionais da companhia envolveu alguns condutores e mecânicos, que se integraram por iniciativa própria nos grupos de combate, especialmente em operações mais complexas, exercendo funções de operacionais.

E a história do Moura? Destacado para levantar uma viatura em Lourenço Marques ao atravessar o Rio Zambeze o batelão naufragou, as viaturas foram água a baixo e o Moura servindo-se da sua viola como jangada conseguiu safar-se!
A equipa integral da FERRUGEM



Transmissões
Sob a direcção do Furriel Agapito, desde o normal envio/recepção de informação à sua codificação e descodificação acresce o seu directo envolvimento nos grupos de combate em que, pelo menos um destes especialistas é integrado como Operador de comunicações, em cada operação. Nestas situações são tão operacionais quanto serão os que tem como missão atacar e destruir directamente o inimigo. Desde os operadores no aquartelamento: Júlio- Cripto, Calheiros, Amaral e Vítor, aos operadores nos Grupos de Combate: Ferreira (falecido na Mina de Maniamba)-1ºGC, Domingos Alves-2ºGC, Correia-3ºGC e Francisco Lopes (Chico)-4ºGC.



Saúde
Para nós os ENFERMEIROS, constituíam uma especialidade fundamental na saúde e estabilidade geral do pessoal, actividade que se estendia também às populações locais. Um grupo, dirigido pelo Furriel Lopes que, para além das tarefas de vigilante e curativa, também está preparada e apoia psicologicamente o pessoal em muitas situações. Este grupo enfrentou desde início enormes dificuldades e contrariedades. Para começar chegou a Massangulo apenas com um enfermeiro (Freitas), porque o Diegues não estava em Chaves aquando da formação da companhia e o Marrão ficou internado em Luanda, por doença. Mais tarde chegou a Masangulo o Diegues, depois o Marrão e depois o Martins (proveniente de outra companhia). Neste período de escassez de pessoal, que decorreu por várias semanas, o Furriel Lopes e o Freitas foram forçados ao acompanhamento dos Grupos de Combate, nas suas diversas operações, obrigando ambos a um intenso esforço pessoal e praticamente sem espaço para descanso, se atendermos às necessidades de assistência no aquartelamento. Para obviar esta deficiência foram cedidos, pelo B.Caç.1936 e por algum tempo, 2 Maqueiros até que este grupo fosse definitivamente completado.
Este grupo de enfermeiros (Freitas-1ºGC, Martins-2ºGC, Luís Marrão-3ºGC e Diegues-4ºGC), quantas vezes exercendo funções atribuíveis a um médico, são igualmente integrados nos Grupos de Combate, em todas as suas missões, com o objectivo de resolver/solucionar, com os parcos recursos que possuem e podem transportar, ferimentos e outros resultantes da actividade operacional em campo.
De referir que em Massangulo recebíamos, uma semana por mês, o médico do B.Caç.1936 (Catur) e em Maniamba, quando necessário, recorríamos ao médico da companhia lá instalada.

Os enfermeiros (quantas vezes médicos)
O responsável desta equipa, o Furriel Fernando LOPES, relembrou alguns momentos:
“Os enfermeiros que comigo trabalhavam (FREITAS, MARRÃO, DIEGUES e mais tarde o MARTINS) foram inexcedíveis no esforço de bem servir e cuidar dos colegas, quando necessário, e da população em geral, principalmente em Massangulo. Quantas não foram as vezes que, chegados de uma operação, em vez de ir jogar as cartas, jogar futebol ou ouvir música, íamos para o Posto de Socorros atender principalmente a população local que nos aguardava ansiosamente à porta, em fila indiana, por um tratamento aos seus males. Dentro das nossas possibilidades e capacidades lá íamos fazendo o melhor possível no intuito de minimizar os seus queixumes. Por vezes não era fácil, tal o número de pessoas que aguardavam por um curativo ou tratamento. 
Outra dificuldade com que nos deparávamos era a língua. Poucos falavam português e o pouco que falavam era pouco perceptível ou entendível. O Macua era o dialecto que predominava. Tínhamos que arranjar um intérprete "ad hoc" em cada vez que atendíamos as pessoas. 

Ainda me lembro de algumas expressões, como: 
XIXI PUTÈCA - (O que é que te dói?); PUTÈCA MATUMBO - (Dói-me a barriga); CUAGULA METZI - (Evacua água).
Outras expressões ou palavras de que me recordo:
MILANDO = confusão / barulho; CHIBANTE MANINGUE = muito bonito/a; PAKA LELLO = até logo;  PAKA MALAI = até amanhã; MANGUANA = de manhã; BASI IAMBONE = basta/chega; MAINATO = empregado; MUÉ = "som de chamamento" (vocativo); MACHAMBA = horta / campo.”

Ainda no contexto da saúde, em que a C.Caç.2418 esteve envolvida, o ex-Furriel Fernando Lopes continua:

“A SAÚDE NÃO TEM COR
Em aditamento e na sequência do por mim já exarado em anteriores participações, apraz-me consignar o apoio e assistência que foram prestados a quem se abeirava do nosso Posto de Socorros a pedir ajuda, obviamente dentro dos escassos recursos de que dispunha a C.Caç.2418, que eram pouquíssimos. 
Estivemos em Massangulo de 15.08.68 a 21.07.69. 
A nossa Companhia tinha uma verba mensal destinada à saúde, de 1.500$00 que não podia ultrapassar. Ora, havia meses em que sobravam alguns medicamentos e, por via disso, era-nos possível dar algum apoio às populações. Assim, à porta do Posto de Socorros vinham chegando, diria diariamente, pessoas a solicitar ajuda para ultrapassar problemas de saúde diversos, que as vinham apoquentando. Fazíamos o nosso melhor, e penso que mais ou menos bem, pois todos os dias o Posto de Socorros tinha um grupo enorme para ser atendido. Se assim não fosse, não compareceriam com aquela assiduidade!
Mais abaixo do nosso quartel (3Km, talvez) havia uma Missão Católica de padres italianos (Congregação Consolata) que tinha ao seu serviço uma Irmã Enfermeira que, com a sua dedicação, abnegação, espírito de sacrifício e, acima de tudo, com muita caridade, ia fazendo autênticos milagres à população de Massangulo face aos escassos meios que me dizia possuir. De tal sorte que, por indicação do Alferes médico Joaquim Ribeiro, começamos a dispensar, o pouco que tínhamos, alguns medicamentos e outro material que não nos fazia falta. Cheguei, juntamente com a minha equipa de enfermeiros, a pegar em alguns rolos de gaze, fazendo compressas que, depois de devidamente acondicionadas, eram entregues na missão. A Irmã não se coibia de mostrar o seu agradecimento pois tudo dava jeito, porque o que tinham em stock era o “NADA”. Só gente como ela, com aquele espírito altruísta, é que conseguiria ultrapassar tantas dificuldades e vicissitudes.
É de todo em todo incontornável salientar a alegria que aquela Irmã Enfermeira colocava nos serviços que prestava, pois sabia que o que fazia o era a bem do próximo por imperativo do seu espírito missionário e alma generosa.
A certa altura da nossa permanência em Massangulo recebemos umas vacinas contra a Varíola para administrar às populações (leia-se: crianças), o que fizemos, designadamente às de Chamande. Toda a nossa equipa de enfermagem se viu envolvida neste acto, bem como fomos acompanhados por vários elementos de C.Caç.2418, concretamente do Cap. Acácio Tomás, que presidiu a todos estes acontecimentos. As crianças choraram alguma coisa (às vezes muito) mas tudo passou e decorreu bem e com a maior normalidade, aliás tudo em conformidade com o que tínhamos delineado.
Certo dia apareceu no Posto de Socorros um sujeito, já de certa idade (um cocuana), que ao correr atrás de um macaco que lhe tinha invadido a machamba e que lhe estava a dar cabo do milho, tropeçou num tronco de árvore e fez um golpe profundo numa perna. Vi-o, tratei-o suturando a ferida e lá foi sua à vida com a recomendação de que deveria regressar, passados uns dias, para lhe serem retirados os pontos. Dito e feito. Passados os dias combinados apareceu, fiz-lhe o curativo e quando dava o assunto por encerrado, tirou duma pequena trouxa meia dúzia de ovos para me oferecer. Agradeci, disse que não era preciso, mas fez questão que aceitasse, o que fiz. Perguntei-lhe porque fez aquilo, tendo-me dito que o fazia por estar muito grato pelo tratamento que lhe fizera “pois tinha ficado muito bem” (sic). Seis ovos para nós, eram simplesmente seis ovos; para ele eram uma fortuna pois galinhas deveria ter muito poucas, aliás como todos os outros. Eram pessoas muito pobres. Encheu-me, no entanto, o coração com toda aquela simpatia! Ganhei o dia!
Para mim - A SAÚDE NÃO TEM COR

Fernando Lopes -Julho 2017”



Alimentação 
Este serviço foi dirigido inicialmente pelo Furriel Ferreira da Silva que cedeu o lugar ao Furriel Barbosa, ainda em Massangulo, alegando que o seu espírito combativo colidia com as funções de Vagomestre, para as quais teve formação. Desde a gestão dos alimentos, elaboração de ementas e execução de todas as refeições com a sua equipa de cozinheiros e padeiros Barreira, Joaquim, Zé Malheiro, Joãozinho satisfazia as necessidades alimentícias de todo o pessoal. Em adição a este grupo também disponibilizava uma pequena cantina para atendimento extraordinário às refeições obrigatórias. O cantineiro era o Fernando Cunha.



Administração 
1ºSarg.Pinto e o escriturário Viseu.


Material 
João ‘Preto’


E ainda o Barros (Ginbras), básico famoso da nossa companhia.



Todos, mesmo todos, foram importantes na estabilidade, funcionamento, tratamento e manutenção de uma estrutura com objectivos de ganhar uma guerra.



PARABÉNS!!!







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