010.MANIAMBA - A chegada

CATUR 
21Jun69
Saímos de Massangulo hoje de manhã e estamos em Catur. O previsto seria seguir directamente para Maniamba mas algo aconteceu porque só arrancaremos no dia 28.
Aqui temos o nosso espaço de aquartelamento, em casernas de Zinco, e está previsto que, em cada três meses de operação em Maniamba, descansaremos aqui um mês. Ainda não sabemos bem o que nos espera em Maniamba mas parece ser uma zona complicada.

NOTA: Neste mesmo dia (21Jun69), cerca das 17h00, ocorreu o naufrágio de um batelão no Rio Zambeze com 150 militares, dos quais fazia parte o nosso companheiro condutor Moura, e 26 viaturas. 103 perderam a vida; o Moura foi um dos sobreviventes - ver 17.SONE-Falando de nós.



Um quartel todo construído em chapa de zinco. Será fácil concluir que nos dias de maior calor é insuportável estar dentro. Serão apenas alguns dias. 

Algumas imagens obtidas nestes dias:
 
A estação sempre movimentada. 
A linha do Niassa termina, por enquanto, aqui em Catur. Por comboio, especialmente a partir de Nampula, chegam grandes quantidades de abastecimentos para esta região interior, para Vila Cabral (capital deste distrito) e todo o norte deste distrito. Às 5ªs e Domingos vínhamos aqui recolher o nosso correio e abastecimentos. Uma carruagem restaurante permitia, a quem podia, fazer uma refeição mais luxuosa.
Está previsto que no fim de 1969 a linha chegará a Vila Cabral e então esta estação não terá tanto significado.

Outras fotos destes dias aguardando a partida para Maniamba:







MANIAMBA 
28un69
De Catur a Maniamba foi uma viagem que parecia não ter fim. Saímos de madrugada. Até Vila Cabral foram cerca de 100Km sem percalços a realçar. O percurso que liga Vila Cabral a Maniamba, em particular, foi muito difícil e moroso. A estrada, que não merece esta designação, completamente esburacada pelo rebentamento de minas, fragilizada pela constante passagem de colunas militares e viaturas de grande tonelagem em abastecimento à zona norte, era impraticável o que obrigava a frequentes desvios, para o interior do mato também este muito tortuoso. Tudo isto tornou aqueles cerca de 90Km num percurso infindável, medonho, tenebroso, enervante e de receio permanente.  

Por fim chegamos a Maniamba pelas 16h30.

8 tendas para Cabos e Soldados. Os Furriéis na vivenda à esquerda (casa do adjunto do administrador local)

Ângulo inverso com a casa dos Furriéis à direita
Estava uma companhia “Checa” instalada junto do Hospital, mas com a qual não teremos relação no contexto operacional.
Num outro local e no outro extremo da povoação, outra companhia - Companhia em Intervenção - que saiu nesse dia para o Lumbo, sendo substituída pela nossa.
O nosso aquartelamento era constituído por 8 tendas grandes, para cerca de 12 homens cada. Os Oficiais e Furriéis ficaram na casa do Adjunto do Administrador, juntamente com este. Para isso os Furriéis tiveram de montar 12 camas, numa ampla sala, mas quase até ao tecto! Esta casa, estilo vivenda, está à esquerda das tendas na primeira fotografia.
Furrieis: Baptista, Carvalho, Lopes
Furr.Barbosa, Furr.Balagueiras, Cap.Tomás, Furr.Lopes, Furr.Baptista (de costas)


Neste local estivemos mais de 6 meses em condições degradantes, especialmente para a rapaziada (Cabos e Soldados) onde, no dia-a-dia, imperava o desenrascanço e a improvisação para minorar a falta de condições destes. 
Operacionalmente passámos a depender do B.Caç.2853 em Macaloge, a nordeste de Maniamba.


ABASTECIMENTOS E CORREIO
A dificuldade nas deslocações a Vila Cabral, devido às condições da pseudo-estrada completamente esburacada e com muitos percursos a corta-mato, obrigava a que os principais abastecimentos de alimentos e a distribuição de correio, entre outros, viessem a ser feitos por pequenos aviões.







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