VERA CRUZ
Este paquete levou-nos para Moçambique.
Partiu de Lisboa no dia 23 de Julho de 1968
e chegou a Nacala no dia 13 de Agosto de 1968.
Foi construído em 1950 para o
transporte de passageiros, especialmente para Argentina, Cuba e, mais tarde, na
rota de África.
No início da Guerra Colonial foi adaptado e destinado ao transporte de tropas para África, até 1972. A 1ª classe era destinada aos oficiais superiores, a 2ª classe aos oficiais subalternos e sargentos, a 3ª para cabos e praças sendo que estes, por falta de cabines, também eram “acondicionados” ao longo dos corredores nesta mesma classe.
No início da Guerra Colonial foi adaptado e destinado ao transporte de tropas para África, até 1972. A 1ª classe era destinada aos oficiais superiores, a 2ª classe aos oficiais subalternos e sargentos, a 3ª para cabos e praças sendo que estes, por falta de cabines, também eram “acondicionados” ao longo dos corredores nesta mesma classe.
O Vera Cruz foi vendido e rumou à
China em 1973.
Ferreira da Silva - A minha primeira longa viagem
por mar, era um luxo, parecia que íamos de férias… mas a história era outra.
ATomás- Embora contrariado, gostei da viagem em que pela 1ª vez atravessei o Equador. Não agradou nada a passagem para o Oceano Índico, pois na zona do Cabo havia muita gente, na borda e não era a apreciar a paisagem.
LUANDA - 01Ago68
Um dia em Luanda.
Alguns nem tiveram oportunidade para ver a cidade (ficaram de serviço). Os que
tiveram essa oportunidade beberam uma cerveja, acompanhada de camarão pequeno
(grátis) e puderam ver uma cidade muito dinâmica, muito activa, viaturas e
pessoas num rodopiar intenso, mas parecendo ignorar a existência da guerra.
Cidade muito
interessante, fresca e moderna.
O nosso tempo foi imediatamente tomado pela
concentração de todos os militares do navio, na praça da catedral, para o
desfile da praxe e regresso ao navio. Não houve tempo para sentir o pulsar
daquela cidade, estranhamente com o trânsito pela esquerda, mas era visível uma
descontracção e sensação de bem-estar nos habitantes. Chocante foi sua
indiferença enquanto desfilávamos… pois a guerra estava a 2.000 km!
Na viagem entre Luanda e Lourenço Marques o Cap. Acácio Tomás, esteve de serviço de Oficial de Dia ao navio. Assistia às refeições nos porões, da proa e da popa, onde havia pouquíssima frequência, devido aos enjoos provocados pela agitação que aí se sentia. À noite teve a sua primeira "acção de risco": um soldado “tresloucado” e armado começou a causar distúrbios. O Comandante da Guarda tentou reter o militar porém foi o Cap. Riquito (C.Caç.2419) que, estando por perto e sendo mais experiente, o ajudou a solucionar o problema. O militar foi desarmado e metido num “camarote privativo” até Lourenço Marques.
NACALA A MASSANGULO
A C.Caç.2418 chegou ao porto de Nacala a 13 Agosto 1968.
Fomos transportados
até à estação. O comboio iniciou a marcha pelas 18h30 rumo a Catur, com passagem por Nampula, Ribaué e Nova Freixo
(actual Cuamba). Todos, numa só carruagem -
parecia sardinha em lata. Dormia-se em qualquer lugar e de qualquer maneira.
Antes de chegar a Nova Freixo o comboio não aguentou uma subida e teve que
recuar para tomar balanço, por 3 vezes… e à 3ª foi de vez! Chegamos a Nova
Freixo no dia seguinte (14) às 20h00, depois de 550 Km. Deram-nos sopa e vinho.
Dormimos uma vez mais na carruagem. Partimos às 4h30 do dia seguinte (15). Um
pouco à frente, em Belêm, juntou-se uma carcaça com autometralhadora, para segurança ao
restante troço da viagem e foram distribuídas munições a todos militares. Numa
outra subida o comboio não aguentou. A composição foi dividida, transportada em
duas partes e unidas mais à frente. O problema não ficou por aqui. Mais uma
subida… mais outra paragem. Sem hipótese de continuar veio uma máquina de Catur
para poder fazer o resto do percurso. Finalmente, com mais 220 Km em cima, chegamos a
Catur (actual Itepela e na época o fim de linha dos caminhos de ferro no
Niassa).
Resumindo: de Nacala a Catur, 48 horas, cerca de 770 Km e duas noites
“dormidas” naquela carruagem.
Da estação era visível o quartel de Catur.
Seguiu-se uma viagem de cerca de 25 Km em direcção a Massangulo; nosso destino e base operacional mais de 10 meses.
Fernando Lopes - É com imenso agrado e prazer que venho
seguindo a história da nossa C. Caç. 2418, tão bem descrita pelo nosso cronista
"Fernão Lopes", digo, Fernando Carvalho. Um bem haja pelo cuidado, esmero e
trabalho que vem tendo em nos querer recolocar em situações vividas, muitas das
quais, sem o mérito do nosso "cronista", já nos teriam, por certo,
escapado. No entanto, tenho bem presente esta viagem de comboio de Nacala até
ao Catur. Só quem viveu esta situação é que acredita em todas as suas
peripécias.
Manuel LIMA Silva - De Nacala a Catur estava a ver que era preciso empurrar o comboio nas subidas, foi uma viagem divertida.
INFORMAÇÃO:
Manuel LIMA Silva - De Nacala a Catur estava a ver que era preciso empurrar o comboio nas subidas, foi uma viagem divertida.
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