005.MASSANGULO - Sociedade local

MASSANGULO - O Aldeamento 
O aldeamento de Massangulo (hoje Vila de Massangulo) era bem organizado, boas palhotas, algumas com espaços privados tipo pátios e normalmente muito limpas. A população asseada, educada, afável (típico do povo moçambicano) e bem formada na generalidade. Era visível a influência do trabalho meritório da Missão NªSª da Consolata. 
O aldeamento de Massangulo foi o mais culto e desenvolvido que nos foi dado a conhecer durante o período da nossa missão em Moçambique. 
A C.Caç.2418 esteve muito presente nos melhoramentos e desenvolvimento dos aldeamentos envolventes. 






Comentários
Fernando Carvalho Na generalidade todos tínhamos boas relações com a população, bem formada e gentil. Um dia fui honrado com um convite de um casal jovem, com um filho talvez de 2/3 anos. Então recordo: na palhota, sentados no chão em redor de um pano, com a função de toalha, havia frango cozido numa taça de plástico, outra taça com uma espécie de puré de milho e uma outra com um molho. Ensinaram-me o seu jeito de comer com os dedos, recolhendo um pedaço de frango ou puré, mergulhar no molho e comer. Foi uma experiência interessante. Talvez ainda mais interessante teria sido o facto de ser convidado porquanto não creio ser uma atitude vulgar. Foi giro!



Missão Nª Sª da Consolata
Do aldeamento de Massangulo saía uma grande avenida, ladeada de árvores enormes, que nos conduzia à Missão, com algumas zonas ajardinadas, especialmente junto da igreja. Era, para nós, um local de passeio e recreio, entre duas operações. Diversos edifícios preenchiam o espaço da Missão tais como oficinas, de diversas artes e ofícios onde se produziam diversos artefactos e que, simultaneamente, serviam de centros de formação profissional da população mais jovem. Visíveis também zonas cultivadas dos mais diversos produtos alimentares e frondosas árvores de frutos, sendo as bananeiras de dimensão pouco comum. Escola, enfermaria e outros completavam aquelas estruturas. Esta Missão exercia também uma brilhante acção pedagógica, cultural, escolar, académica e profissional com as populações locais. Desde a formação de artífices à formação de professores e outras importantes profissões esta Missão enriquecia aquela região. De todo este espaço realçava a igreja que era particularmente monumental, não só pela sua interessante arquitectura moderna mas também pelo facto de, estando num local tão remoto da “civilização”, apresentava uma grandiosidade pouco comum quando comparávamos com importantes localidades da Metrópole. Esta Igreja foi construída sem usar tintas nem cimentos, mas apenas com materiais da região. Um dos fundadores da Missão e da construção da Igreja foi um Padre Italiano que era um grande escultor e talvez o arquitecto desta. Este mesmo padre foi quem esculpiu as figuras em cada uma das invejáveis Estações da Via Sacra. Sabemos que este local é actualmente o principal centro de peregrinação distrito do Niassa.
Num relatório de 2012, da diocese de Lichinga (Vila Cabral), pode ler-se: “…chegamos a Massangulo, depois de percorrer 98Km, em dois dias. A partir das 12 horas, do dia 21 Julho (Sábado) as caravanas de peregrinos concentraram-se no cruzamento do ex-quartel militar de Massangulo e às 16 horas partiram em longo cortejo para o Santuário da Nossa Senhora da Consolata, rezando o rosário e cantando os cânticos marianos tendo como seu guia a imagem de São José, Padroeiro da Diocese.” 




A Missão Nª Sª da Consolata, em Massangulo, teve início em 1928.
Não conseguimos confirmar, apesar das nossas diligências junto da diocese de Lichinga, se contínua preponderante nas acções que tivemos oportunidade de conhecer em 1968/69.



A Companhia e as acções junto das populações
Desde o início, nesta nossa zona de acção, houve sempre boas relações com as populações de Massangulo, Chamande e Kitamba (ANANASES por nós baptizada, pois era uma aldeia abandonada, onde se encontraram uns ananaseiros). Foi a C.Caç.2418 que ajudou a reconstrução dessa aldeia, desde Setembro/68, com o transporte de materiais (troncos, bambu e capim) e, durante vários meses, destacou diariamente uma secção, para colaborar na defesa do aldeamento, juntamente com as Milícias locais.
De igual modo demos a colaboração às Autoridades Administrativas no sentido de alojar o pessoal recuperado ou apresentado nos Aldeamentos de Chamande e Massangulo, colaboramos na construção da Escola e da Igreja ou Mesquita de Chamande e muitas outras acções de colaboração. Este envolvimento com as populações foi determinante para o retorno de muitos moçambicanos que haviam abandonado aqueles aldeamentos. A nossa postura humana, respeitosa e colaborativa gerou confiança e prestigio. 
Relevante atitude colaborativa foi também a entrega de documentos, tipo salvo-conduto, aos residentes locais pretendentes a ir ao Malawi. O nosso Comandante passava autorizações para se deslocarem a Mandimba mas, antes desta localidade, entravam no Malawi em local não vigiado. O documento serviria apenas no caso de serem detectados pelas nossas tropas no nosso território.
Foi visível o resultado deste trabalho, especialmente nos chefes das aldeias, quando manifestaram o seu apreço pela C.Caç.2418, na nossa despedida à saída para Maniamba.
 



Chamande





Também dignas de recordação são as deslocações a Catur, às quintas e domingos, para recolher o correio, diversos géneros alimentícios, a carne e o peixe, vindos de Nampula. 
Este comboio tinha um vagão restaurante e, os que podiam, almoçavam ou petiscavam delícias não acessíveis no nosso dia a dia.
Nestas deslocações a Catur as viaturas serviam de transporte às populações dos diversos aldeamentos.



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